Sistema hidráulico dos tratores agrícolas


Tiago Rodrigo Francetto, Ravel Feron Dagios, Alexandre Russini, Renan Prade


A expansão da agricultura brasileira deve-se em grande parte pelo aumento da área plantada no decorrer dos últimos 40 anos, permitindo um aumento substancial da produção agrícola. Contudo, apenas o incremento da área não é suficiente para que se busque a ampliação da produção. Novas tecnologias no campo, aliado ao grande desenvolvimento da mecanização contribuíram de forma significativa para que se conseguisse atingir o atual patamar da produção agrícola nacional.

Nos últimos anos, devido a novas políticas de apoio ao desenvolvimento da agricultura, visando principalmente os pequenos agricultores, houve um aquecimento nas vendas de tratores agrícolas criando um novo cenário no meio rural, onde a facilidade de crédito possibilitou a aquisição do tão sonhado trator, o que para muitos agricultores era impossível até então.

Inúmeros são os fatores que devem ser levados em consideração no momento da aquisição de um trator agrícola, além das condições financeiras. Dentre estas, pode ser destacado o consumo de combustível, potência do motor, reserva de torque, sendo que uma característica que passa totalmente desapercebida é a capacidade do levante do sistema hidráulico. Cada propriedade possui particularidades dentro de cada atividade realizada, umas exigindo somente capacidade de tração com implementos de arrasto, outras maior capacidade de levante hidráulico ao utilizar equipamentos acoplados aos três pontos do trator. O engate de três pontos é composto por vários componentes que trabalham juntos, entre eles o sistema hidráulico do trator formado pela bomba e cilindro hidráulico e os pontos de fixação, daí a origem do nome popularmente conhecido “sistema de engate aos três pontos”. Os dois pontos inferiores são acionados pelo sistema hidráulico do trator, fornecendo movimento no sentido vertical, permitindo desta forma suspender e abaixar os implementos a ele acoplados através do simples comando do operador. O braço superior designado de terceiro ponto é móvel e tem como função apenas de equilíbrio do implemento no sentido longitudinal.


No caso de tratores de pequeno e médio porte, o sistema de levante hidráulico se torna indispensável, sendo constantemente utilizado em função das condições impostas pelas atividades diariamente realizadas. Cabe ressaltar, que a maioria desses tratores é utilizada em pequenas propriedades, onde os equipamentos acoplados permitem uma maior manobrabilidade, conseqüentemente, maior eficiência operacional, sem contar na qualidade do trabalho realizado.

O sistema de levante hidráulico deve proporcionar uma capacidade compatível com as necessidades do agricultor, que muitas vezes analisa com maior prioridade apenas a potência do motor do trator. Assim, buscou-se avaliar a capacidade do sistema hidráulico dos tratores agrícolas de rodas com tração dianteira auxiliar (TDA) para demonstrar a variação desta, nas diferentes classes de potência. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) classifica os tratores em classe I, quando sua potência vai até 36,9 kW (50 CV), classe II de 37 a 73,9 kW (50,30 a 100,50 CV), classe III de 74 a 146,9 kW (100,60 a 199,80) e classe IV com potência superior a 147 kW (200 CV).

Ao total, avaliou-se a capacidade do sistema hidráulico de levante de nove marcas de tratores agrícolas nacionais, contabilizando 145 modelos. Estes também foram separados por marca e diferenciados por potência, juntamente com sua respectiva capacidade de levante.

Constatou-se uma maior presença dos modelos nas classes II e III, sendo que a primeira compreendendo 40% e a segunda 40,69% do total. Desse modo demonstra-se que o maior número de modelos disponibilizados pelas empresas encontra-se distribuído na faixa de 50CV a 200 CV.

Figura 1 - Número de tratores por classes.

Ainda pode-se considerar o fato da ocorrência de uma ampla variação entre as capacidades de levante dos tratores de diferentes marcas englobados em uma mesma classe.

Tabela 1 - Valores médios da capacidade de levante do sistema hidráulico em kgf nas respectivas classes de potência por marca.
Marcas
I
II
III
IV
A
616,93
-
-
-
B
-
2700,21
5204,63
6675,06
C
-
2445,28
5568,67
5800,15
D
1200,20
2650,24
8400,42
-
E
-
2290,28
6586,35
7333,80
F
2099,60
2433,04
5217,88
7999,67
G
-
1967,03
3314,07
6607,76
H
597,55
2528,89
3666,90
-
I
850,44
1300,14
-
-


Pode-se notar que não ocorre um padrão de aumento entre o máximo e o mínimo nas diferentes categorias. A classe I apresenta uma diferença na capacidade de levante entre seu máximo e mínimo na ordem de 351,36%, a classe II de 207,69%, a classe III de 253,48% e na classe IV de 137,92%. Esse diferencial deve-se a capacidade de bombeamento e pelo diâmetro do cilindro hidráulico, que são variáveis entre modelos, inclusive dentro da mesma faixa de potência. Cada projeto é considerado único na indústria, pois envolve além de fatores estruturais de projeto e aos direcionados ao desempenho, os critérios econômicos, que irão interferir diretamente no custo final do produto, e assim fazer parte diante da concorrência. Outro fator que deve ser levado em consideração é a inexistência de ensaios oficiais realizados nos tratores agrícolas, onde pode ser avaliada desde a potência e torque do motor, a capacidade de levante do sistema hidráulico, visto que, este é de grande importância para que se possa obter informações que levem a uma correta seleção. Sendo assim, cabe apenas ao consumidor verificar as especificações técnicas disponíveis e selecionar o modelo que melhor atinja os seus objetivos. Várias empresas possuem modelos específicos para determinadas atividades, que muitas vezes não precisam de levante hidráulico com grande capacidade, não necessitando dessa forma incrementos estruturais, barateando os custos. Para os tratores maiores, o levante hidráulico possui apenas uma função secundária, pois a maior parte dos equipamentos é de arrasto, acoplados através da barra de tração, como por exemplo, grades e semeadoras, que devido as suas dimensões e peso são impossibilitados de serem acoplados ao engate de três pontos, o que justifica de certa forma a variação nas capacidades encontradas.

Figura 2 - Capacidade do sistema hidráulico nas classes de potência.

Nesse cenário, pode-se observar a ocorrência de uma variação significativa entre capacidade de levante do hidráulico mínima e máxima dos tratores agrícolas dentro da mesma classe de potência. Portanto, se faz necessário uma avaliação mais criteriosa por parte do agricultor no momento da aquisição, pois a capacidade deverá suprir as necessidades nas mais distintas atividades que o trator irá desempenhar. 

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Sobre Francetto

É Eng. Agrícola e mestre em Eng. Agrícola. Atualmente é doutorando em Eng. Agrícola do Programa de Pós-Graduação em Eng. Agrícola da Universidade Federal de Santa Maria e membro do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Máquinas Agrícolas.
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