Depósitos de sementes e fertilizantes


A expansão da agricultura brasileira deve-se em grande parte pelo aumento da área cultivada no decorrer dos últimos 40 anos, permitindo um aumento substancial da produção agrícola. Contudo, apenas o incremento da área não é suficiente para que se busque a ampliação da produção. Novas tecnologias no campo, aliado ao grande desenvolvimento da mecanização auxiliaram, de forma significativa, para que se conseguisse atingir o atual patamar da produção agrícola nacional.

Dentre os processos que receberam essa contribuição, tem-se a operação de semeadura, que é uma das atividades mais importantes envolvidas no sistema de produção agrícola, sendo a sua execução com qualidade um fator primordial para o sucesso da produção. Todavia, devido à agricultura ser um setor altamente influenciado por características externas, como o clima por exemplo, deve-se buscar aliar a qualidade da operação com a máxima capacidade operacional possível, pois, o período ideal destinado a semeadura, muitas vezes torna-se restrito por estes fatores.

Esta capacidade, é um fator médio demonstrativo da capacidade de trabalho efetiva horária ou diária proporcionada pelo uso de uma determinada máquina ou conjunto, que, desde bem dimensionada e adequada às condições específicas de um determinado local e/ou situação de trabalho, pode vir a proporcionar uma maior produtividade por unidade de tempo. Desta forma, esta pode ser representada pela relação entre a área trabalhada e o tempo necessário para executá-la, como por exemplo, hectare por hora.   

Em função disso, deve-se buscar maximizá-la, já que esta está envolvida diretamente no tempo de execução da tarefa e  de forma significativa no custo final de produção, em uma agricultura cada vez mais competitiva e com retorno muitas vezes incerto. Assim, as semeadoras-adubadoras passaram a assumir um papel fundamental no sistema de produção agrícola, uma vez que estas máquinas apresentam uma menor capacidade operacional, em comparação a outros implementos, pois necessitam do abastecimento de insumos, no caso sementes e fertilizantes, nos reservatórios. Além disso, estas máquinas necessitam promover o corte eficiente dos resíduos culturais, a abertura dos sulcos e a dosagem e distribuição de sementes e fertilizantes segundo a densidade de semeadura e adubação pré-estabelecidas em contato com o solo, funções que, somadas, também podem reduzir a capacidade operacional. 

Desta forma, a capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes influenciam de forma direta, tendo em vista que são um dos principais motivos das paradas. Sendo assim, torna-se necessário uma correta seleção do implemento para as condições requeridas pelo produtor a fim de minimizá-las.


Neste contexto, buscou-se avaliar o número de linhas e a capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes contidas nos catálogos técnicos e na busca direta com os fabricantes de semeadoras-adubadoras de precisão do mercado nacional, confeccionando-se um banco de dados. 

Ao total, avaliaram-se as informações técnicas de 18 marcas, contabilizando 558 modelos, desde as destinadas para as pequenas e as grandes propriedades rurais. Estas foram separadas por marca e diferenciadas pelas características avaliadas. A Tabela 1 apresenta o valor máximo, mínimo e médio do número de linhas, capacidade dos depósitos de sementes e fertilizantes.


Tabela 1 - Valores máximos, mínimos e médios.
Parâmetros
Máximo
Mínimo
Média
Número de linhas
30
1
10
Capacidade dos depósitos de sementes (kg)
1.700,0
19,0
439,8
Capacidade dos depósitos de fertilizante (kg)
6.400,0
42,0
1.539,4



A avaliação das informações evidencia uma grande variação, possibilitando a semeadura de áreas pequenas, médias e grandes, como resultado da variação do número de linhas de 1 a 30, capacidade dos depósitos de sementes de 19,0 à 1.700,0 kg e a capacidade dos depósitos de fertilizante de 42,0 à 6.400,0 kg. O número de modelos avaliados, separados por classes, está ilustrado na Figura 1. 

Observa-se que o maior número de semeadoras disponíveis no mercado nacional são compostas de 1 a 10 linhas, com 315 modelos, seguido pelas equipadas com 11 a 20 linhas, correspondendo a 231 semeadoras e as com 21 a 30 linhas com apenas 12.

A Figura 2 ilustra os valores máximos, mínimos e médios da capacidade do depósitos de sementes distribuídas entre as classes. 


Pode-se observar que com o aumento do número de linhas, ocorre um incremento dos valores máximo, mínimo e a média da capacidade de sementes. Contudo, ressalta-se que, especificadamente, o valor mínimo das semeadoras-adubadoras de 21 à 30 linhas é semelhante ao valor máximo das semeadoras-adubadoras com 1 à 10 linhas. Além disso, evidenciou-se uma variação expressiva entre os valores máximos e mínimos, sendo esta de 820,0 kg para classe de 1 à 10 linhas, 1.090,0 kg para classe de 11 à 20 e 860,0 kg para classe de 21 à 30 linhas. Tal fato pode sugerir a ocorrência de um capacidade operacional distinto entre classes e entre modelos da mesma classe.  

Os valores máximos, mínimos e a média da capacidade dos depósitos de sementes por linha, distribuídas entre as classes, está disposto na Figura 3.


Observa-se um incremento do valor médio da capacidade do reservatório de sementes com o aumento do número de linha, fato este teoricamente esperado e possivelmente um dos requisitos para um bom desempenho da máquina agrícola. Contudo, ressalta-se que em uma mesma classe ocorreram variações, entre valores máximos e mínimos, de 590,64% para semeadoras de 1 a 10 linhas, 768,74% de 11 a 20 linhas e 93,17% para as de 21 a 30 linhas. Portanto, evidencia-se que as semeadoras com menor número de linhas, inferior a 20, apresentam maiores alterações nos reservatórios, de forma que torna-se indispensável uma maior atenção, a este fator, no momento da seleção.

A Figura 4 ilustra os valores máximos, mínimos e a média da capacidade do depósitos de fertilizantes distribuídas entre as classes.

Verifica-se que ocorre um incremento dos valores máximo, mínimo e média da capacidade de fertilizante com o aumento do número de linhas. Entretanto, constatou-se uma proximidade entre a capacidade máxima das semeadoras-adubadoras de 11 à 20 linhas, com a carga mínimo da classe constituía de 21 à 30 linhas. Do mesmo modo, a classe de semeadoras-adubadoras de 1 à 10 linhas, apresentou uma diferença de 2.758,0 kg entre o valor máximo e mínimo. Na classe de 11 à 20, uma diferença 3.110,0 kg e para classe de 21 á 30 linha 2.500,0 kg.

As capacidades dos reservatórios de fertilizante distribuídos por classes em máximos, mínimos e médio, é demonstrado na Figura 5.   


Os valores médios da capacidade dos reservatórios de fertilizantes por linha, tendem a aumentar com o incremento do número de linhas. Além disso, constatou-se que as alterações entre os índices máximos e mínimos diminuíram em função do aumento das linhas, na qual, para a primeira classe evidenciou-se uma variação de 843,70%, para a segunda de 152,56% e para a terceira de 43,60%. Por outro lado, os valores máximos apresentaram-se contrários a esta tendência, em outras palavras, estes diminuíram com o acréscimo do número de linhas. 


Nesse cenário, pode-se observar a ocorrência de uma variação significativa entre as capacidades dos depósitos de sementes e fertilizantes mínima e máxima das semeadoras-adubadoras dentro da mesma classe do número de linhas. De forma que, em alguns casos, semeadoras-adubadoras de classes menores podem vir apresentar uma capacidade operacional superior a de classes maiores, em virtude de seus reservatórios possuírem uma maior capacidade. Além disso, por se tratar de um item prontamente influenciador da autonomia dos insumos sementes e fertilizante, desde que bem dimensionados, podem diminuir o custo de produção devido a redução do número de paradas para abastecimentos. Portanto, se faz necessário uma avaliação mais criteriosa por parte do agricultor no momento da aquisição deste item.

É importante ressaltar que neste trabalho foi avaliada somente as capacidades dos depósitos de sementes e fertilizantes dos modelos, componente que, portanto, não deverá ser o único critério avaliado pelo produtor na hora da seleção e/ou compra.

Artigo publicado na Revista Cultivar Máquinas, Volume 125, Páginas 18 à 20, 2012.
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Sobre Francetto

É Eng. Agrícola e mestre em Eng. Agrícola. Atualmente é doutorando em Eng. Agrícola do Programa de Pós-Graduação em Eng. Agrícola da Universidade Federal de Santa Maria e membro do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Máquinas Agrícolas.
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